A primeira década de 2000 foi marcada pela chegada de um novo gênero de programação à TV aberta brasileira: os reality-shows. Após o estrondoso sucesso do programa "No Limite", que caminhava rumo à sua terceira edição, a Globo estava prestes a investir na produção de outro formato norte-americano. Em parceria com a produtora holandesa Endemol, ela estrearia a sua versão da franquia "Big Brother" no Brasil. Mas, em meio à formatação do programa, a emissora sofreu um golpe surpresa da concorrência. No dia 28 de outubro de 2001, sem qualquer alarde na imprensa, mas causando um imenso impacto no mercado televisivo, o SBT levou ao ar a "Casa dos Artistas".
Utilizando-se da mesma lógica do Big Brother, o reality do SBT punha-se a registrar, 24 horas por dia, a rotina de 12 celebridades (algumas sub-celebridades). Em um programa ao vivo, anunciado apenas algumas horas antes de ir ao ar, o apresentador Silvio Santos recebia os participantes em seu palco e revelava para o grande público as principais regras do jogo: os artistas deveriam ficar confinados em uma casa por 42 dias, na disputa por um prêmio de R$ 300.000,00.
No lugar de anônimos, um grupo de famosos disputava a permanência no programa... Ao invés de um estúdio milionário, uma mansão no bairro do Morumbi, visivelmente adaptada para a atração... Ao invés de um rigoroso processo de eliminação, o próprio Silvio atendia ligações dos telespectadores e, ao vivo, tomava as suas decisões com base na opinião da maioria. Desta forma, improvisada e totalmente sem compromisso, o SBT conquistou a maior audiência da sua história, chegando a abrir 29 pontos de vantagem sobre o "Fantástico" nas noites de domingo, quando aconteciam as eliminações.
O sucesso da "Casa dos Artistas" foi tão estrondoso que mexeu não só com a TV aberta, mas também conquistou seu lugar na TV por assinatura. No dia 22 de novembro, a DIRECTV tornou-se a primeira operadora a comercializar um reality-show através do sistema pay-per-view. Em parceria com o SBT, ela destinava o seu canal 607 exclusivamente para a transmissão da atração ao vivo, 24 horas por dia, até o final da competição. A "Casa" era oferecida em três formatos: A modalidade "24 Horas", ao custo de R$ 7,90; o modo "Final de Semana", na qual o sinal ficava aberto das 7h de sexta-feira até as 7h de segunda-feira da semana seguinte por R$ 12,00; e o "Pacote Completo", que garantia a abertura do sinal até a grande final do programa, ao custo de R$ 45,00.
Como já era de se esperar, o programa enfrentou uma série de processos e liminares. A Globo e a Endemol alegavam (com uma certa razão, diga-se de passagem), que o programa tinha formato praticamente idêntico ao do "Big Brother". No primeiro embate judicial, uma semana após o lançamento do programa, a transmissão foi interrompida. Dois dias depois, o departamento jurídico do SBT conseguiu suspender a medida, garantindo a exibição do programa. No dia 30 de novembro, já com sua transmissão em PPV pela DIRECTV, o programa teve sua exibição vetada novamente por mais alguns dias, até que retornou plenamente ao ar.
No ano seguinte, enquanto o SBT levava ao ar a segunda edição do reality, a Globo finalmente estreava o "Big Brother Brasil". De olho no sucesso alcançado pela DIRECTV, NET e SKY também se aventuravam neste segmento, estreando canais exclusivos para o BBB. O "Pacote Completo" era vendido ao custo de R$ 45,00 e a transmissão também podia ser acompanhada através da Globo.com. Exclusivamente para os assinantes SKY, o BBB disponibilizava um menu interativo com informações sobre o programa. O canal Multishow também pegou carona no sucesso do programa, exibindo 20 minutos ao vivo ao final de cada edição veiculada pela TV Globo.
Também em 2002, a DIRECTV inovou mais uma vez, ao transmitir a Casa dos Artistas 2 com a opção de multicâmera em três canais: dois com imagens de pontos diferentes da casa e um com uma espécie de mosaico, que combinava os dois sinais para que o assinante pudesse escolher o que assistir. A transmissão na internet foi realizada com exclusividade pelo provedor UOL.
A "Casa dos Artistas 3" também chegou a ser transmitida pelo SBT e DIRECTV, mas o formato rapidamente se esgotou (as três edições foram exibidas em um curtíssimo espaço de tempo). Já o "Big Brother Brasil" permenece na grade da Globo até os dias de hoje, rendendo cifras milionárias na TV aberta, na TV paga, no pay-per-view e na internet. Amando ou odiando a atração, é incontestável o seu sucesso comercial em todas as plataformas de comunicação.
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